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Por que as aranhas fêmeas comem as aranhas machos antes ou depois do acasalamento? – canibalismo sexual em aranhas

Nem todos os processos de acasalamento são excitantes, prazerosos e sensuais. Alguns são cruéis, suicidas e ameaçam a vida com finais dramáticos!

As aranhas são populares por produzirem teias de seda mais fortes que o aço. Mas raramente alguém conhece as horríveis histórias sobre sua prática sexual canibal (ato de comer os parceiros sexuais). Muitas espécies de aranhas fêmeas matam e comem seus parceiros (principalmente os machos) antes, durante ou até depois do coito não tão amoroso por assim dizer né.

Muitos ecologistas e zoólogos (Polis 1981; Elgar 1992; Jaimie 1995; Johns & Maxwell 1997; Maydianne 1998; Johnson 2001; Fromhage, Uhl, & Schneider 2003) ficaram fascinados e intrigados para encontrar as razões por trás desse comportamento sexual canibal das aranhas fêmeas.

Um grupo de ecologistas e zoólogos observaram e estudaram o canibalismo sexual em aranhas-de-jangada, aranhas-lobo, aranhas-pescadoras, aranhas-vespas, viúvas-negras e aranhas orbitelas. Ao longo dos anos, esses estudiosos interpretaram esse comportamento canibal das aranhas fêmeas com três hipóteses diferentes:

aranha fêmea devorando aranha macho

1 – Hipótese do forrageamento adaptativo:

Esta hipótese foi formulada pela primeira vez em um estudo de 1991 por Newman e Elgar. O estudo foi publicado em um uma revista científica americana chamada The American Naturalist, vol. 138 publicado pela The University of Chicago Press. A editora publica artigos para uma sociedade conhecida como The American Society of Naturalists que trabalha para aprimorar o conhecimento da evolução orgânica e ciências biológicas. 

Newman e Elgar especulam que isso é um comportamento adaptativo em aranhas fêmeas para pesar o valor de se aproximar ou cortejar o macho como uma fonte de nutrientes versus um parceiro sexual. Conforme essa hipótese, as aranhas fêmeas geralmente atacam quando há uma disponibilidade abundante de parceiros, mas a comida é limitada, por conta disso as fêmeas vão considerar os machos como um lanchinho facinho. 

A hipótese do forrageamento adaptativo também implica que as aranhas fêmeas não virgens provavelmente vão atacar os machos que se aproximam se comparadas às virgens. A hipótese estima principalmente as razões por trás do comportamento canibal sexual pré-copulatório em aranhas fêmeas. 

Um estudo de 1997 por Arnqvist & Henriksson também testou essa hipótese. Eles descobriram uma evidência potencial por meio do comportamento das aranhas-de-jangada (Dolomedes fimbriatus). A limitação significativa de comida aumentou o canibalismo sexual em aranhas-de-jangada fêmeas. Outras espécies de fêmeas também mostram o comportamento canibal sexual pré-copulatório quando se encontram em condições de escassez de comida. 

aranha-de-jangada

2 – Hipótese do transbordamento agressivo

Mais tarde, no ano de 1997, Arnqvist e Henriksson formularam outra hipótese, a do transbordamento agressivo, em seu estudo do canibalismo sexual nas aranhas-de-jangada (Dolomedes fimbriatus). Ambos os pesquisadores propuseram a ideia de que esse comportamento sexual canibal das aranhas fêmeas não é meramente resultado da hipótese do forrageamento adaptativo, mas também é uma forma de agressão. As aranhas fêmeas confundem os machos com presas quando se aproximam ou liberam a agressão acumulada na hora de cortejar o parceiro.

Outra explicação por trás desse comportamento sexual canibal dado por Arnqvist e Henriksson foi um mecanismo cruel de rejeitar o parceiro. As fêmeas rejeitam os parceiros matando-os e extravasando sua agressão.

Mais tarde, muitos outros estudos relacionados ao canibalismo sexual em outras espécies, estudaram esse comportamento agressivo (Johnson & Sih, 2005; Pruitt et al., 2008; Berning et al., 2012; Khadka & Foellmer, 2013; Bueno, & Larano, 2014). Muitos pesquisadores não encontraram nenhuma prova comportamental repetida para esta hipótese. Os pesquisadores supuseram que essa hipótese depende principalmente da personalidade das fêmeas do que um nível alto de agressão.

Em um estudo de 2016, publicado em um periódico chamado “Animal Behaviour”, um equipe de cinco pesquisadores eslovenos e australianos descobriu evidências substanciais de que o dimorfismo sexual do tamanho e a escolha do parceiro parecem ideais para explicar o comportamento sexual canibal e agressivo das aranhas fêmeas.

A equipe era formada por quatro pesquisadores (Klemen Čandek, Tjaša Lokovšek, Tatjana Čelik, Simona Kralj-Fišer,  and Matjaž Kuntner) do Evolutionary Zoology Laboratory, Biological Institute ZRC SAZU, na cidade de Liubliana, Eslovênia e um pesquisador (Mark A. Elgar) da School of BioSciences, University of Melbourne, na cidade de Melbourne, no estado de Victória, Austrália.

A equipe de pesquisa coletou as aranhas-de-jangada (Dolomedes fimbriatus) e observou seu comportamento de acasalamento canibal em cativeiro. Em sua pesquisa, eles descobriram que apenas aranhas fêmeas muito vorazes ou famintas ficaram sem acasalar já que elas supostamente mataram os machos que se aproximaram.  A equipe de pesquisadores não encontrou nenhuma prova sólida de que a voracidade mal adaptativa aumenta o canibalismo sexual. Cada aranha fêmea exibe um comportamento diferente em relação às presas e a aproximação dos machos. 

Ao contrário das características da personalidade individual e da fome, o canibalismo sexual depende mais do dimorfismo sexual do tamanho e das preferências de acasalamento das fêmeas. As fêmeas com uma constituição corporal maior do que os machos atacaram relativamente mais do que as fêmeas com massa corporal menor ou igual. 

Todas as aranhas-de-jangada fêmeas atacaram os parceiros que se aproximaram até certo ponto da cópula, antes, durante ou depois. As fêmeas virgens eram mais propensas a atacar os machos do que as não virgens. 

Apenas 48,3% de aranhas-de-jangada fêmeas acasalaram com sucesso durante o primeiro teste de acasalamento. 52% delas atacaram os machos que se aproximaram e não conseguiram acasalar. Mas durante o segundo teste, as fêmeas mostraram um comportamento menos agressivo. 

aranha-pescadora

3 – Hipótese do investimento paterno

Essa hipótese é a explicação escrita mais rara do canibalismo sexual em aranhas fêmeas. A hipótese do investimento paterno é baseada mais em uma ideia abstrata do que qualquer prova científica substancial. Esta hipótese implica que as aranhas machos se sacrificam para aumentar a taxa de fertilidade da fêmea, a fecundidade dela e a saúde da sua ninhada. Essa hipótese é apenas limitada às espécies de aranhas-pescadoras (Dolomedes tenebrosus).

Os pesquisadores Dr. Schwartz e Dr. Hebets, descobriram em seu estudo que as fêmeas que consumiram os machos após o acasalamento deram à luz a ninhadas mais saudáveis do que as fêmeas que não mataram e não comeram seus parceiros. Os machos apresentam-se para as fêmeas como uma forma de alimentação nupcial. 

Mas quase não existem provas que solidifiquem essa hipótese do porquê as aranhas fêmeas comerem os machos depois do acasalamento.