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Os elefantes ficam bêbados?

Histórias sobre animais selvagens que evidentemente ficam bêbados depois de comer frutas em fermentação ou apodrecendo são comuns. Os elefantes, em particular, têm sido o ponto central dessas histórias. Existem anedotas sobre elefantes-africanos comendo frutos de marula que teriam um efeito alucinante na mente, uma situação em que um alce comeu muitas maçãs podres e ficou preso em uma árvore, histórias sobre os macacos-verdes de São Cristóvão que foram vistos roubando bebidas de turistas depois que o seu gosto por açúcar e álcool aumentou e até mesmo os chimpanzés ques fazem ferramentas como esponjas de folhas para coletar a seiva das palmeiras ráfia que têm as propriedades do álcool.

Apesar de essas histórias serem contadas repetidamente, elas são frequentemente desprezadas e tratadas como mitos. De acordo com alguns cientistas, é improvável que um elefante ingira frutas podres o suficiente para ficar bêbado. No entanto, novos avanços foram feitos no campo do metabolismo do álcool em animais, e isso mostra que essas histórias sobre animais que ficam embriagados na natureza depois de consumir tantas frutas podres são possivelmente verdadeiras.

O que os cientistas afirmam?

De acordo com cientistas e pesquisadores, os elefantes são grandes demais para ficarem bêbados. No entanto, quando essa afirmação foi feita, eles se basearam em um cálculo simples que incluía o tamanho do corpo de um elefante, a quantidade de etanol na fruta da marula e a rapidez com que os humanos podem decompor isso em seus corpos. Basicamente, os cientistas justificaram sua afirmação considerando o quanto seria necessário para um humano se sentir intoxicado após consumir álcool e aumentar para o tamanho de um elefante.

Essa lógica tem algumas falhas fatais. Para começar, ela deduz que os elefantes podem decompor o etanol tão rápido quanto um ser humano. Pesquisas adicionais indicam que essa suposição é completamente sem fundamento.

Os humanos, ao contrário de outros primatas, têm uma habilidade especial de metabolizar o etanol de maneira rápida. A principal enzima responsável pela sua decomposição é a ADH7 (álcool desidrogenase classe 4), que tem uma variação que nos torna 40 vezes mais rápidos no metabolismo do álcool.

Essa mudança ocorreu há cerca de 10 milhões de anos, antes de começarmos a fermentar frutas para obter álcool e bebidas, evoluindo após adaptarmos um estilo de vida terrestre, quando provavelmente encontramos frutas caídas. Frutos maduros demais podem ter, surpreendentemente, alto teor de etanol.

Podemos comparar nosso metabolismo com o de outros animais?

Então, se temos um metabolismo extremamente rápido, podemos comparar os elefantes ajustando o tamanho do corpo? Bem, para conhecer a capacidade de outros mamíferos em comparação com os humanos para decompor o etanol, os cientistas compararam o gene ADH7 em 85 mamíferos.

Surpreendentemente, foi descoberto que a maioria dos mamíferos não compartilha a variação para o metabolismo mais rápido, isto é, uma decomposição mais rápida do etanol. Também foi descoberto que muitos mamíferos nem mesmo têm um gene ADH7 funcional, incluindo os elefantes, tanto asiáticos quanto africanos. Um parente extinto dos elefantes, os mamutes-lanosos, também não tinham. O estudo revelou que os mamíferos privados do gene têm uma coisa em comum: eles regularmente não comem frutas. Suas dietas consistem, basicamente, em grama, folhagem e carne.

A metabolização do etanol é um processo complexo que requer várias enzimas diferentes e envolve várias etapas. Portanto, é possível que os elefantes possam decompor o etanol de alguma outra forma. No entanto, é improvável que sua eficiência para decompor o etanol possa ser comparada à dos humanos. Sendo assim, você simplesmente não pode aumentar o tamanho do corpo para determinar se os elefantes podem ficar intoxicados por comer frutos de marula estragados.

Então, os elefantes podem ficar bêbados?

Talvez! Uma vez que os elefantes não têm o gene ADH7, isso sugere que eles não podem lidar com o álcool. Mas os pesquisadores apontam que é muito errado tirar conclusões sobre os elefantes com base em outro ser com características ecológicas e fisiológicas divergentes.

E quanto aos outros mamíferos?

Na sociedade humana, existem alguns mamíferos que compartilham as mesmas ou semelhantes alterações em sua mutação ADH7. Esses mamíferos tendem a comer muito néctar e frutas. O aie-aie, um primata nativo de Madagascar, bebe o néctar da árvore-do-viajante, que dizem ser fermentado. Este é um exemplo que mostra que existem alguns mamíferos que consomem álcool.

Mais um exemplo são os morcegos frugívoros, especialmente os morcegos raposas-voadoras e os Eonycteris spelaea, cuja dieta inclui apenas néctar e frutas. Esses mamíferos também são melhores na digestão do etanol. Agora, você pode pensar que os morcegos voam para viajar de um lugar para outro, então, isso é uma adaptação interessante, pois um morcego bêbado teria dificuldade para ir aos lugares. Eles se adaptaram a este sistema e possivelmente podem voar embriagados sem qualquer problema.

Como os mamíferos vivem com uma dieta diversa, seus sistemas digestivos também são diversos e, portanto, não é inteligente comparar o sistema digestivo dos humanos com o de outros mamíferos. Sabia que existem substâncias químicas e enzimas que o sistema digestivo humano não consegue digerir e metabolizar adequadamente? Pois é, tudo isso é uma questão de evolução.