Babuínos machos e a sua maneira agressiva de intimidar as fêmeas para acasalar
Uma equipe de três pesquisadores franceses e britânicos descobriu que os babuínos machos usam táticas agressivas e violentas para dominar as fêmeas e aumentar suas chances de sucesso no acasalamento, uma rara demonstração de intimidação sexual observada anteriormente apenas em humanos e chimpanzés.
Ao longo de diversos táxons animais, chamar a atenção das fêmeas exige um esforço árduo dos machos, pois apenas para um único evento de acasalamento, eles primeiro têm que seduzir as parceiras em potencial.
Não é fácil para os machos cortejar e impressionar suas parceiras para uma cópula bem-sucedida, tendo que inventar mil e umas táticas invencíveis para conseguir o sinal verde de uma fêmea.
Para seduzir e deixar as parceiras deslumbradas, foi documentado que os machos de vários táxons animais manifestam grandes estratégias na arte da sedução. Eles produzem sons específicos para esta ocasião, exibem seu condicionamento físico e seus encantadores movimentos dançantes, e dão presentes nupciais (presas, líquidos nutritivos ou até se auto sacrificam), etc. para atrair as fêmeas para a cópula.
No entanto, nem todos se preocupam em conquistar as fêmeas, alguns simplesmente usam táticas rigorosas e agressivas para dominar suas parceiras nessas ocasiões. Em um estudo de 2017 foi descoberto que os babuínos machos abusam agressivamente de suas parceiras de acasalamento em potencial, o que é uma rara demonstração de sua intimidação sexual.
O artigo de pesquisa foi publicado online em um periódico de acesso aberto da Cell Press chamado Current Biology em 6 de julho de 2017.
A Current Biology é uma revista bem conhecida que publica regularmente artigos de pesquisa e análises originais, direcionados a diversos campos da biologia. Um dos muitos objetivos da Current Biology é estimular a comunicação entre os vários campos da biologia fazendo publicações das principais descobertas de interesse geral. A revista também tem como objetivo compartilhar os conhecimentos mais recentes com especialistas e pessoas em geral.
A equipe de pesquisadores afirmou que práticas agressivas de acasalamento, antes apenas observadas e documentadas em seres humanos e chimpanzés, podem ser mais comuns e generalizadas também em diversos táxons animais.
Este time de pesquisadores incluía a pesquisadora de pós-doutorado, Alice Baniel, do Instituto de Estudos Avançados de Toulouse, na França. Guy Cowlishaw, um pesquisador, do Instituto de Zoologia da Sociedade Zoológica de Londres. E por fim, uma ecologista comportamental, Elise Huchard, do Instituto de Ciências Evolucionárias de Montpellier, da Universidade de Montpellier, na França.
Antes da pesquisa de 2017, os cientistas observavam apenas a intimidação sexual em humanos e chimpanzés.
Um grupo de biólogos comportamentais estudou a violência sexual em chimpanzés, mas quase ninguém nota esse comportamento específico em babuínos.
“A intimidação sexual era considerada um caso frequente apenas em humanos e chimpanzés”, afirmou a equipa de investigação.
Os pesquisadores, em conjunto, estudaram o comportamento dos babuínos Papio ursinus e demonstraram como os machos intimidam e espancam as fêmeas para acasalar, assim como afirmaram que 70% dos ferimentos nos corpos das fêmeas foram causados pela intimidação e importunação dos machos.
Alice Baniel e sua equipe de pesquisa acreditam que a intimidação e a violência sexual podem ser mais comuns, em animais, do que os cientistas presumem. A agressão do babuíno macho para com a sua parceira de coito em potencial fornece a ele taxas de sucesso de acasalamento tardias, mas garantidas.
Para estudar esta intimidação sexual mais extensivamente, Alice Baniel e seus colegas estudaram os babuínos selvagens (Papio ursinus) no Parque Natural de Tsaobis, localizado em um ambiente semi-árido na Namíbia, por quase quatro anos. A equipe monitorou o comportamento e coletou dados do amanhecer ao anoitecer, dividindo o babuíno em grupos habituados, chamados “J” e “L”.
Após quatro anos de extensa observação e coleta de dados, a pesquisa encontrou informações substanciais de que os machos intimidavam agressivamente as fêmeas no período fertil em comparação com as grávidas e as que já haviam acasalado. Também foi descoberto que a agressão dos machos aumentava suas chances de acasalamento em um futuro próximo com as fêmeas que foram agredidas por eles.
“Descobrimos que uma fêmea de babuíno Papio ursinus que foi intimidada com maior agressão de um macho tinha mais probabilidade de ser protegida por ele durante seu ciclo de cio”, afirmou a equipe de pesquisa.
Isso pode parecer repulsivo, mas onde outros animais machos (mamíferos e não mamíferos) colocam grandes esforços e cortejam docemente suas fêmeas, os babuínos usam a agressão e a violência contra suas parceiras de acasalamento como uma forma de cortejo ou coerção sexual.
Os pesquisadores também esclareceram a sequência cronológica entre a agressão e o acasalamento dos babuínos machos. Eles frequentemente ameaçavam (o que incluía balançar a cabeça, se movimentar no solo enquanto voltados para o indivíduo alvo e olhar intensamente), assim como as assediavam e as puniam (com socos, mordidas ou agarrões).
A equipe de pesquisa testou hipóteses alternativas, como a preferência das fêmeas por machos abusivos, porém não encontraram nenhuma prova que as apoiasse.
De acordo com os pesquisadores, este é o primeiro estudo detalhado que sugere que a intimidação ou a violência sexual podem ser encontradas em diversos táxons de mamíferos do que se imaginava anteriormente. Estudos futuros precisam se concentrar mais na evolução do conflito sexual e na preferência do parceiro nas sociedades de mamíferos, assim como, por incentivo da equipe do estudo em questão a outros pesquisadores, estudar extensivamente as origens da violência sexual humana.