A ciência por trás do motivo pelo qual as corujas não dormem à noite – tudo tem a ver com as suas estratégias de caça
Quase todos nós temos a curiosidade sobre o motivo das corujas não dormirem à noite e já ouvimos histórias sobre essas aventureiras noturnas, não é mesmo? Mas dificilmente quase nenhum de nós conhece a verdadeira ciência que está por trás desse comportamento particular das corujas.
Embora seja verdade que a maioria dessas aves não dorme à noite, muitas espécies de corujas caçam de dia e repousam durante a noite, como por exemplo, a coruja-das-neves (Bubo scandiacus) e a coruja-buraqueira (Athene cunicularia).
Então o que exatamente determina o ciclo noturno e diurno das corujas?
De acordo com diferentes pesquisas, as razões principais por trás dos diferentes ciclos diurnos e noturnos das corujas são suas estratégias de caça, a história como aves de rapina noturnas e a disponibilidade de presas.
Adaptação das corujas ao estilo de vida noturno e diurno
As corujas são aves de rapina que caçam e se alimentam de vertebrados para sobreviver. A adaptação dessas aves aos estilos de vida noturno (ativo à noite) e diurno (ativo durante o dia) depende da disponibilidade de sua presa preferida.
Um artigo de pesquisa apresenta duas hipóteses para justificar os estilos de vida noturno e diurno de corujas ou dos pássaros em geral. O artigo foi publicado no periódico “Evolution volume 71, issue 8” no ano de 2017. O periódico publica principalmente artigos e outros materiais de escrita com relação à biologia evolutiva para encorajar e aumentar a compreensão da mesma.
Os pesquisadores Samantha R. Anderson e John J. Wiens do Department of Ecology & Evolutionary Biology, da Universidade do Arizona, mencionaram duas hipóteses em seu artigo de pesquisa.
A primeira hipótese amplamente sustentada é que os ancestrais comuns dos pássaros tinham estilos de vida diurnos. Um oceano de evidências morfológicas e genéticas está disponível para levar a crer que todos os ancestrais comuns dos pássaros eram ativos durante o dia, e assim, os pássaros descendentes com leves mudanças evolutivas são ativos ao longo do dia.
A segunda hipótese sugere que os ancestrais comuns das corujas tinham estilos de vida noturnos com um pequeno toque catemeral (ativos 24 horas). Essa hipótese propõe que os ancestrais comuns tinham um estilo de vida semelhante ao dos mamíferos (ativos durante o dia e à noite).
Até o momento, não há provas substanciais para solidificar qualquer uma das hipóteses. Os biólogos especialistas acreditam que o estilo de vida noturno e diurno das corujas depende da disponibilidade da presa e de sua evolução independente com um ancestral comum diurno.
Por que a maioria das corujas não dormem à noite?
A melhor resposta possível para essa pergunta é a anatomia ou estrutura corporal das corujas. Conforme mencionado no livro “Handbook of the Birds of the World”, as corujas possuem uma coloração perfeitamente enigmática das plumas e excepcionais sentidos de audição e visão para caçar à noite, além disso, possuem penas silenciosas que as tornam altamente adaptadas para a caça noturna e até mesmo diurna. As penas com uma borda frontal serrilhada e uma borda posterior com franja auxiliam na audição da coruja a encontrar a presa. As penas mais suaves, não apenas permitem que a coruja se concentre na presa, mas também melhoram a taxa de sucesso na hora de caçar.
Outra razão para os hábitos noturnos de caça das corujas é seu poder de enxergar na luz fraca. Katherine V. Fite em seu artigo de pesquisa, “Anatomical and behavioral correlates of visual acuity in the great horned owl” menciona que a retina da coruja tem uma fóvea convexiclivada bem definida (uma visão de alta acuidade). A fóvea possui células bastonetes e cones (células do olho). As células cones na retina nos ajudam a enxergar na luz intensa enquanto as células bastonetes nos auxiliam a enxergar na luz fraca. A retina da coruja tem mais células bastonetes do que os humanos e por isso elas enxergam e caçam à noite. Também, agraciadas com uma visão binocular e grandes olhos tubulares, as corujas são altamente habilidosas em encontrar suas presas de noite.
Sendo a única ave de rapina noturna, a coruja gosta de caçar e se alimentar sem se preocupar com outros predadores. Com suas características únicas, como o disco facial e orelhas assimétricas, as corujas podem facilmente encontrar uma presa na escuridão, apenas por ouvi-las. Sendo assim, esta ave majestosa só anda à noite para caçar e se alimentar e esses comportamentos noturnos permitem que elas tenham uma experiência de caça tranquila.
Em outro artigo de pesquisa publicado em 2020, a equipe de pesquisadores estudou o estilo de vida predatório noturno da coruja por meio de uma abordagem de varredura de todo o genoma. O artigo de pesquisa foi publicado no periódico “Genome Biology and Evolution, Volume 12, Issue 10”, em outubro de 2020. A equipe de pesquisa coletou genomas de 20 espécies de aves:
- 11 Strigiformes (corujas)
- 2 Accipitriformes (falcões, águias, urubus, milhafres etc.)
- 4 Coraciimorphae (coliiformes, Leptosomus discolor, trogoniformes etc.)
- 1 Falconiforme (falcões ou carcarás)
- 1 Passeriforme (passeris, Passeridae, fringilídeos etc.)
- 1 Galliforme (peru, tetraz, galinha etc.)
Todas as aves do estudo eram diurnas, exceto as onze corujas. A equipe de pesquisa descobriu que as corujas desenvolveram adaptações sensoriais e são essas adaptações que permitem que elas lidem com uma luz escura ou fraca em suas aventuras noturnas, além disso, elas possuem fototransdução nas hastes que auxiliam nesta caça. Os pesquisadores também encontraram evidências evolutivas noturnas das corujas com seus ancestrais. Por fim, o estudo sustentou a ideia de que as corujas têm uma história independente de aves de rapina noturnas.
Os biólogos especialistas resumem o comportamento noturno e diurno dessas aves como a escolha pessoal da presa e a evolução biológica. Algumas corujas evoluíram ao longo dos anos para se tornarem aves de rapina diurnas, mas outras corujas não dormem à noite, pois é o momento ideal para a caça.