fbpx
Animais AntigosRecentesTop Artigos

Lobos-terríveis: Os lobos-pré-históricos existiram de verdade ou apenas em romances fictícios?

Os lobos sempre ocuparam um lugar de destaque tanto em narrativas de ficção quanto no reino da realidade, cativando a imaginação de leitores e espectadores. Entre os fascinantes membros desta espécie estão os “lobos terríveis”, ou Canis dirus, uma variedade distinta que se destaca dos seus contemporâneos, os lobos cinzentos (Canis lupus), pela sua envergadura e peso, chegando a pesar cerca de 68kg. Estes gigantes pré-históricos, protagonistas de lendas e inspiração para criaturas míticas em séries de sucesso como Game of Thrones, percorriam vastas extensões da América do Norte durante a Idade do Gelo, caçando grandes presas que hoje estão extintas, como os mamutes e as preguiças-gigantes.

Curiosamente, a representação desses lobos gigantes com pelagens avermelhadas, tal como imaginado antes de sua popularização como cães de guerra pelos fãs de Game of Thrones, reflete apenas uma fração da rica história evolutiva e ecológica desses animais. Estudos recentes buscam desvendar os mistérios que envolvem o Canis dirus, desde suas origens até os motivos que levaram à sua extinção há aproximadamente 13.000 anos. Questões como sua biologia, ecologia, e diferenças fundamentais em relação aos seus primos modernos, os lobos cinzentos e até mesmo os coiotes, são o foco de análises aprofundadas.

Desvendando o Passado: A Ciência por Trás dos Lobos Terríveis

Através da análise de dados, como esqueletos e registros fósseis, cientistas estão começando a compreender melhor as adaptações e o nicho ecológico desses predadores gigantes. As descobertas apontam para uma criatura formidável, cuja existência se entrelaça com a megafauna de sua época, contribuindo para uma compreensão mais ampla do clima, do ecossistema e da cadeia alimentar da América do Norte pré-histórica.

A investigação sobre os lobos terríveis não apenas enriquece nosso conhecimento sobre a biodiversidade passada, mas também inspira um sentido de conexão com a fauna que uma vez habitou o mesmo território que hoje chamamos de casa. Para os fãs de séries de TV e entusiastas da história natural, o estudo desses animais magníficos oferece uma janela para o passado, permitindo uma apreciação mais profunda das forças evolutivas e ecológicas que moldaram o continente norte-americano e suas espécies residentes, desde os gigantes extintos até os animais que hoje compartilham nosso lar.

Fotografia de uma reconstrução de um lobo terrível em exposição no La Brea Tar Pits and Museum – Fonte: La Brea Tar Pits and Museum

Desvendando a Linhagem: Surpresas Genéticas dos Lobos Pré-Históricos

Nos primeiros estudos, os pesquisadores foram capazes de analisar genomas completos que revelaram algumas surpresinhas. Ao invés de compartilhar laços genéticos próximos com o lobo comum, eles apenas apresentavam algumas semelhanças com eles.

Angela Perri, uma arqueóloga da Universidade de Durham, afirma que morfologicamente os lobos-pré-históricos e os comuns parecem semelhantes, mas sua genética não está relacionada nem de perto.

Houve novas descobertas que posicionam os lobos-pré-históricos em uma linhagem do Novo Mundo que se separou dos ancestrais dos lobos comuns há 5,5 milhões de anos atrás.

Perri, reforçou a questão de saber se sua extinção veio por meio de mudanças climáticas e ambientais ou se os humanos, outros cães e lobos contribuíram para exterminá-los.

Uma ilustração do extinto Grande Lobo Pré-histórico caçando sozinho na floresta. Crédito: Aunt_Spray iStock

Os lobos-terríveis

O lobo-pré-histórico já foi classificado no gênero Aenocyon, ou seja, terrível ou temível. É uma implicação mitológica que indica diretamente seu tamanho gigante e o conjunto de dentes posteriores. Os lobos-terríveis são um dos notáveis animais que uma vez já vagaram pelo mundo com preguiças, felinos e camelos gigantes. Esses estão entre os animais que não conseguiram se adaptar às mudanças do cenário mundial e acabaram morrendo.

Na mente de Perri, as imaginações sobre os lobos-pré-históricos sempre estiveram presentes, antes mesmo dos estudos virem à tona. Ela sempre pensou que os lobos-terríveis estavam presentes no mesmo momento que os humanos apareceram. Será que ambos, humanos e lobos-pré-históricos compartilharam a mesma linha do tempo?

Desafios na Extração de Fósseis: A Busca por DNA no Poço de Piche de La Brea

Quando ela iniciou seus estudos sobre os lobos-terríveis, ela sabia que existiria um lugar onde não haveria escassez de fósseis desses lobos, ou seja, em Los Angeles. No entanto, os esforços anteriores de extrair fósseis de La Brea falharam. O local tem condições ambientais extremas, tornando impossível uma extração mais “fácil”, sem que algum problema aconteça.

O poço de piche presente no local é uma “piscina” borbulhante cheia de piche que não é nem um pouco favorável para a preservação do DNA. Uma das extrações de La Brea foi bem-sucedida e eles conseguiram obter uma amostra de DNA. Foi uma sequência de proteínas que permitiu aos pesquisadores comparar os lobos-pré-históricos com coiotes, lobos comuns, lobos-dourados-africanos e cachorros. Contudo, no final, concluíram que os lobos-terríveis eram diferentes de todos.

lobos terríveis
Angela Perri na escavação do Lobo-terrível

A caçada ao lobo-terrível

O DNA da sequência de proteínas não era suficiente, a equipe precisava de mais para encontrar alguns resultados sólidos. Laurent Frantz da Queen Mary University of London disse que aquela sequência de proteínas não é suficiente para encontrar a linhagem de uma espécie inteira.

Perri também percorreu museus e universidades nos Estados Unidos à procura de ossos de lobos-pré-históricos, na esperança de encontrar mais DNA. O passeio não foi nada emocionante quanto parecia ser, isso porque Perri sempre tem que explicar às autoridades do aeroporto porque ela carrega consigo fragmentos de ossos, dentes e dispositivos de medição eletrônico.

Esforço Recompensado

Porém, o trabalho árduo valeu a pena e ela e seus colegas conseguiram coletar algumas amostras. A equipe de pesquisa foi capaz de descobrir que os lobos-terríveis são totalmente diferentes de outros lobos. Perri salienta que eles eram um grupo de lobos antigos que viveram no continente americano. Eles foram extintos há 13 mil anos, quando outros grandes animais morreram.

Perri e sua equipe ainda enfrentam desafios, mas a busca do DNA dos lobos-pré-históricos continua. As descobertas confirmaram que esses animais gigantes eram uma linhagem completamente separada dos lobos comuns e coiotes, acrescentando outra peça ao quebra-cabeças da história natural do continente norte-americano.

lobos terríveis
Lobos-terríveis se alimentam de sua presa, enquanto um par de lobos cinzentos se aproxima na esperança de se alimentar também. Pintura: MAURICIO ANTON

 Concluindo 

As perspectivas genéticas dos novos estudos fizeram Mauricio Anton desenhar também o lobo-pré-histórico que ele ilustrou anteriormente. O revestimento longo e escuro, a pelagem preta e outras características adaptáveis desapareceram quando entraram nos lobos norte-americanos. Somente as semelhanças externas, como a cabeça e o corpo do lobo, permanecem intactas. 

Os lobos-terríveis existiram na terra por um tempão porque eles transferiram sua genética para outros lobos, ou seja, eles permaneceram aqui por muito tempo para fazer isso.

No entanto, isso não foi suficiente para eles manterem sua linhagem e evitar a extinção. Os pesquisadores acham que espécies semelhantes a lobos e cachorros podem tê-los vencido ou dado origem a doenças. Em algum momento, a mudança climática deve ter desempenhado seu papel em sua extinção também.

Os lobos-terríveis permanecem vivíssimos na nossa imaginação como predadores poderosos e você pode se deparar com eles em mais programas de ficção. Muitos pesquisadores também estão fazendo sua parte para encontrar mais informações sobre os lobos-pré-históricos pelo seu DNA. Tomara, né?